terça-feira, 16 de março de 2010

Morro do Pilar - Produção de chapéu de palha ajuda a economia

Marta Vieira - EM

Em Morro do Pilar, donas-de-casa sustentam famílias com a renda obtida na fabricação do mais tradicional símbolo das festas juninas mineiras

Maria Vicente da Silva, a Maria do Lilico, prepara os chapéus na máquina de costura que ganhou há 40 anos e não sabe se conseguirá atender as encomendas


Os 24 quilômetros sinuosos de estrada de terra que ligam ao asfalto os moradores de Morro do Pilar, na Serra do Espinhaço, Região Central de Minas Gerais, desvendam belas montanhas e cachoeiras, riqueza inexplorada num dos municípios mais pobres de Minas Gerais. Sob o sol forte do começo de março, nada combina melhor com a mata fechada e a água transparente brotando das rochas do que os quintais aconchegantes das casas na cidade, à sombra de autênticos chapéus de palha. Produzidos ali mesmo, eles preservam uma tradição herdada dos escravos no século 18. Inconformadas com a renda miúda das poucas opções de sobrevivência das famílias, as mulheres comandam a cadeia artesanal de fabricação, que ocupa maridos e filhos, para trançar as fibras do taquaraçu e do indaipa (palha do coqueiro).

Pronta a matéria-prima, as costureiras mostram como a arte tem resistido ao tempo. Centenas de chapéus de palha vão deixar Morro do Pilar até junho para abastecer as festas juninas do interior do estado, mas há produção durante todo o ano, que complementa o dinheiro apurado nos pequenos sítios, a aposentadoria do serviço público e os salários pagos pela prefeitura. A renda per capita no município de 3,6 mil habitantes é estimada em R$ 3,4 mil pela Fundação João Pinheiro (FJP), menos de um terço do rendimento médio por habitante em Minas, de R$ 11.027.

Maria Júlia, a Maria do Deusdito, conseguiu reformar a casa e construir cinco cômodos com o dinheiro do artesanato

Quase 1 mil peças por mês ganham forma nas mãos e nas máquinas de um grupo de modelistas, que cresceram entre tranças feitas pelas mães e avós ou passaram a confeccionar os chapéus para ajudar nas despesas de casa. A mais velha, a viúva Maria Vicente da Silva, de 67 anos, é a Maria do Lilico, apelido do marido, o ferreiro Carlindo Gentil. Em Morro do Pilar, os nomes dos chefes de família tomam, com frequência, o lugar do sobrenome da mulher. Aposentada há sete anos, ela ainda não sabe se terá condições de atender tantos pedidos, confeccionados na máquina que ganhou de presente do pai há 40 anos.

A cada mês, pelo menos 30 dúzias de chapéus feitos de taquaraçu são moldados em seu quarto de costura em tamanhos variados e vendidos numa série de cidades, como Itabira, Guanhães, Sete Lagoas e Belo Horizonte. Agora, ela teme que a atividade acabe, já que os jovens não demonstram interesse no ofício. “Estou cansada de chamar os jovens para ensinar a costura. É uma tradição importante para a cidade que não pode acabar”, conta. O motivo pode ser a remuneração. Os vendedores costumam pagar no máximo R$ 28 pela dúzia de chapéus de palha do taquaraçu e R$ 120 pela dúzia das peças confeccionadas à mão na chamada palha do coqueiro. No varejo, a remarcação pode passar do dobro. A renda mensal das mulheres varia de R$ 100 a R$ 300.

Marta da Silva desbasta o taquaraçu, corta-o em tiras, ferve-o e depois o deixa secar ao sol. Com a venda, compra remédios

Ainda assim, o negócio tem de continuar para outra costureira pioneira na produção de chapéus, Maria Júlia da Silva, de 66 anos, a Maria do Deusdito, pai de seus cinco filhos. O casal vivia da renda apertada da Fazenda Rio Vermelho até que ela decidiu abraçar a profissão, seguida também pela filha Maria Creuza dos Santos, de 44 anos. “Antes, o dinheiro era muito pouco. Com os chapéus, reformamos a casa, aumentamos o trato dos animais na roça. Muita gente criou os filhos usando esses recursos”, diz.

Conceição Ferreira Gomes, de 58 anos, que optou pela fabricação dos chapéus em palha de coqueiro, aprendeu a arte com as avós. “Não temos alternativa de emprego aqui e é por isso que a tradição tem de se manter. O trabalho depende de muita concentração e paciência”, ensina. Determinada, a professora Éllen Giovanna Sales, de 37 anos, foi a última a ingressar no grupo das costureiras e já desenvolveu novidades. Além dos chapéus, confecciona cestas de palha usadas na produção de kits de presente. “Já enfrentei dois anos desempregada. Agora, não passo uma só semana sem fazer os chapéus, que me ajudam a criar meus filhos”, diz. A costura das peças emprega outras dezenas de mulheres que se embrenham nas matas, a distâncias de até quatro horas num caminhão cedido pela prefeitura, para colher o taquaraçu e a palha de coqueiro. Depois preparam o material até o momento de trançar as fibras.

Aos 54 anos, Marta da Silva Oliveira perdeu a conta das horas gastas, desde os oito anos, à beira do tanque e do tacho de alumínio. Com problemas cardíacos, foi proibida de colher a planta, mas assume todo o trabalho restante, de desbastar o taquaruçu, cortá-lo em tiras, que serão fervidas em água por 20 minutos e secam debaixo de muita luz natural durante quatro horas para ser trançadas. “Com o dinheiro, compro remédios e tudo o que é preciso em casa”, garante.

Um comentário:

  1. Como faço para fazer pedidos de chapúes de palha? Há um telefone ou e-mail disponível? Obrigada! Meu e-mail é alessandranicolau@veloxmail.com.br

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