domingo, 21 de março de 2010

Conceição - Levante as mãos quem ainda não foi assaltado

JOSÉ SANA - De Fato - 21/03/2010

Ataque nesta semana a posto de combustíveis, quando os bandidos permaneceram quase três horas dentro do estabelecimento, mostra a falência da sociedade diante dos criminosos

Quem ainda não foi assaltado levante as mãos! Este é um desafio aos moradores de cidades e vilarejos localizados às margens da rodovia MGC-120, antiga BR-120, com extensão de 110 quilômetros, de Santa Maria de Itabira a Guanhães. Pavor pelo terror, uma nova face de quem viveu desde os primórdios até agora tranquilamente e é obrigado a mudar a maneira de pensar e o comportamento.

Para sintetizar o estado de espírito atual dos moradores e justificar o apavoramento de todos, um fato ocorreu nesta semana, no Posto Mangueiras, município de Ferros, km 368 da rodovia. Dois bandidos encapuzados renderam cinco pessoas — um frentista, um funcionário que acabara de chegar, dois motoqueiros que corriam da chuva forte e um caminhoneiro que estava estacionado no pátio do posto — e os obrigou a trabalhar carregando peças roubadas.

O circuito interno de televisão, por sinal eficiente, gravou todas as imagens e a movimentação no posto e dentro do restaurante no decorrer de quase três horas — de 1 da manhã às 3h54 — as quais o proprietário sempre acompanha de seu quarto de dormir, mas não o fez nessa madrugada. A técnica do assalto: os ladrões carregaram os objetos roubados: cigarros, bebidas (uísque), refresqueira, forno de microondas, e outros objetos — pouco dinheiro (menos de R$ 300,00) — a um veículo que os aguardou nas proximidades. O prejuízo foi calculado pelos proprietários do posto em cerca de dez mil reais.

Fatos intrigantes ocorreram: um caminhão-baú permaneceu durante cerca de 15 minutos parado no meio do pátio do posto. Outro detalhe: telefonema anônimo dado ao posto dois dias depois da ocorrência tinha o objetivo de pedir informações acerca do andamento das investigações. A terceira curiosidade: os larápios levaram objetos de lanchonete, mas não se interessaram por computadores nem celulares. Também não se preocuparam com as filmagens, talvez porque estivessem encapuzados.

DeFato teve acesso às filmagens e pôde observar detalhes que podem favorecer a polícia nas investigações. Há fatos determinantes que denunciam falta de experiência em assaltos. Por exemplo, os assaltantes permaneceram dentro do restaurante num período de quase três horas. Por uma questão de sorte não foram surpreendidos pela polícia. Caso a TV do dono, MMC, estivesse ligada, de sua casa poderia tranquilamente acionar os policiais de Ferros. Quando chamados, às 4 horas da madrugada, esses levaram apenas 40 minutos para chegarem ao local.

Levantamento feito pela reportagem comprova que todos os postos de combustíveis, bares e restaurantes localizados às margens da rodovia já foram assaltados e poucos crimes foram elucidados. Além dessa quadrilha que invadiu o Posto Mangueiras, uma outra atua atacando aposentados. Existe, também, denúncias da existência de distribuição de drogas na região. Pelo menos em Brejaúba, distrito pertencente ao município de Conceição do Mato Dentro, vila localizada a 12 km da MGC-120, já foi presoum grupo de traficantes pela Polícia Militar.

DETALHES DO ASSALTO

Os bandidos chegaram por volta de uma hora da manhã, de acordo com o cronômetro das câmeras do circuito interno de televisão. Primeiramente, renderam o frentista do posto. Em seguida, dois cidadãos que chegaram numa moto e escondiam da chuva que caía naquele momento. Também, usaram a “mão de obra” de um motorista de caminhão que estava parado no local e detiveram um funcionário que chegava da casa de sua noiva. Depois de fazer pelo menos três deles a ajudá-los no transporte de material do roubo, prendeu os cinco no banheiro do restaurante.

Para entrar no restaurante, abriram uma porta com chave deles próprios. Segundo os proprietários, parecem conhecer a tarefa de chaveiros. O chão ficou sujo com resíduos de metal das chaves que foram usadas na abertura da porta.

Os dois assaltantes estavam armados com revólveres ou armas pesadas (tal dúvida não foi tirada), segundo os reféns e pediam insistentemente para não serem observados, mesmo usando máscaras. Rejeitaram levar caixas de chapéus e sequer cogitaram dos computadores e de outros aparelhos, como celulares. Também não tiveram o cuidado de desligar os telefones.

Poucos minutos antes da rendição do primeiro refém, um filho dos proprietários acabava de chegar de Itabira, onde estuda. Foi direto para o seu quarto de dormir e, a exemplo dos pais, não esteve presente nos instantes do roubo.

Durante a movimentação dentro da lanchonete, não houve ameaças aos reféns, sequer foi necessário que lhes apontassem armas.

O caminhão-baú estacionado durante cerca de 15 minutos é detalhe interessante O motorista não saiu do volante e nem estacionou o veículo. E não despertou a curiosidade dos bandidos. De acordo com as imagens mostradas no vídeo, o veículo é plenamente identificável e pode estar envolvido no assalto ao posto. A favor do veículo como não-participante do assalto, pesa o nome da empresa dona do caminhão.

Durante as quase três horas do roubo, enquanto permaneceram dentro do espaço do restaurante, um dos bandidos segurou a lanterna, grande e de diâmetro avantajado, na boca. O fato prova que o rapaz, além de ser alto e musculoso, tem uma bocarra acima do normal.

A RODOVIA DO MEDO

Ao contrário das rodovias movimentadas que por causa disso se tornam difíceis para as ações de marginais, a MGC-120 oferece uma gama de vantagens para roubos sem chamar a atenção das pessoas que nela transitam. A literatura falada da história dessa rodovia, nos últimos meses, mostra o costume dos bloqueios com pesadas madeiras, roubos depois de pedradas nas cabines, tocaias com tiroteios, cerco a fazendas, perseguição a outros veículos e ataque a i aposentados.

Em toda a extensão dos 110 quilômetros, as lanchonetes e restaurantes fecham as portas às vezes ao escurecer e sempre às 22 horas, mas há postos que atendem durante 24 horas. Outras questões são telefonemas de traficantes, até mesmo dentro dos presidiários, aos moradores locais, fazendo ameaças.

Diante do retrato desse corredor do medo, é urgente que as comunidades e as polícias se unam para estudar uma estratégia para conter a violência que, cada vez mais, é facilitada pelo asfaltamento de novas estradas. Conclusão: ou se unam todos ou vem aí um futuro negro para todos.

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