domingo, 20 de fevereiro de 2011

Irmãos conseguem façanha inédita de ocupar cargos nas três esferas do Poder Legislativo

EM - Alessandra Mello

Weliton Prado (PT) : 35 anos, repórter fotográfico. Começou a carreira como líder do movimento estudantil. Em 2000, foi eleito vereador em Uberlândia. Dois anos depois se tornou o mais jovem deputado estadual do PT, sendo reeleito em 2006, com votação maior ainda. Em 2008 tentou, sem sucesso, a Prefeitura de Uberlândia. Na eleição do ano passado, foi eleito deputado federal.

Eles não jogam futebol, mas são um fenômeno – nas urnas. Juntos, obtiveram 370,2 mil votos nas eleições de 2010, o que garantiu aos irmãos Prado assento nas três esferas do Poder Legislativo, em alguns casos em dose dupla, fato inédito na política brasileira. São muitos os casos de famílias na política, a maioria representantes de oligarquias poderosas e com poder econômico. Dentro do próprio PT existem os Tatto, que até pouco tempo exerciam forte influência dentro do partido, em São Paulo, mas nunca com mais de um representante no Legislativo ao mesmo tempo, caso dos Prado. São duas cadeiras na Assembleia Legislativa de Minas, ocupadas por Elismar Prado (PT), de 38 anos, e Liza Prado (PSB), de 47, e uma na Câmara dos Deputados, com a eleição de Welinton Prado (PT), de 35. A família de sete irmãos também tem um deles na Câmara Municipal de Uberlândia (Triângulo Mineiro), Gilmar Prado (PT), de 27, eleito pela primeira vez em 2008. Até o ano passado, Gilmarzinho, como é conhecido, tinha como companhia no Parlamento municipal Liza Prado, que renunciou ao seu quarto mandato de vereadora em Uberlândia para tomar posse na Assembleia.

Mas no clã existem outros aspirantes a um cargo eletivo. Paulo Prado, filho de Liza Prado, disputou, em 2008, um vaga de vereador em Contagem, Região Metropolitana, novo reduto eleitoral da família. Apesar de usar em sua campanha um cartaz com a mesma foto, o mesmo número e o mesmo mote da campanha de Weliton Prado a deputado estadual em 2006, não teve sucesso. Pelo contrário, foi multado pela Justiça Eleitoral.

Mais velha dos irmãos, foi Liza Prado quem traçou, mesmo sem intenção, a trajetória da família na política. Aos 15 anos já militava no movimento estudantil, nas associações comunitárias e também da Igreja Católica. A tiracolo sempre levava os irmãos, que não tinham com quem ficar. Logo se filiou ao PCdoB, se elegendo pela primeira vez, em 1993, ao cargo de vereadora em Uberlândia, aonde nasceram os irmãos Prado. Quando deixou o emprego de fotógrafa no extinto jornal O Triângulo para disputar sua primeira eleição, a vaga foi ocupada por Weliton, que seguindo os passos da irmã também fazia fotos.

Esse foi o primeiro emprego de carteira assinada do que seria futuro deputado, filho do marceneiro Orlandino Fernandes Peixoto e da costureira Luiza Prado, que faleceu em 2006, aos 65 anos. O primeiro chefe, Ademir Reis, conta que Welinton ia trabalhar todos os dias com a mesma roupa, um macacão azul, que acabou ficando famoso na cidade em sua primeira campanha. “Na época já era um guerreiro. Trabalhava incansavelmente no jornal ajudava toda a família, muito pobre, mas muito unida. Do mesmo modo que Liza um dia me procurou e disse que ia deixar o emprego para disputar uma vaga na Câmara Municipal, ele também fez. E logo na primeira disputa foi bem eleito”, revela Ademir. Segundo ele, o então fotógrafo vivia, junto com o irmão Elismar, em manifestações, protestos e lutas em prol do estudante. Articulado, aos poucos foi virando referência na cidade, principalmente entre o eleitorado mais jovem. “Qualquer evento, manifestação, em tudo que envolvia a cidade ele estava sempre presente”, comenta Ademir.

Criatura

Apesar de ter sido a precursora, o puxador de votos da família é Weliton Prado. Somente ele recebeu em outubro 234,3 mil votos. Nessas eleições, foi o primeiro mais bem votado do partido para a Câmara Federal, título que ostenta desde 2006, e o terceiro na colocação geral do estado. “A criatura superou o criador”, brinca Liza ao se referir ao irmão, conhecido pelo cabelo comprido, pela maneira peculiar de fazer política, conquistar o eleitorado e pelos hábitos comedidos. Não bebe, não fuma, não toma nem refrigerante, nunca é visto em locais badalados ou da moda, nem ostentando carros e roupas de luxo. A votação expressiva, no entanto, não é proporcional ao prestígio do deputado dentro de sua própria legenda. A principal reclamação é que ele faz política pessoal e não partidária.

Para os admiradores dos Prado, o sucesso da família é motivo de ciúme e críticas dentro e fora do partido. “Ninguém atira pedra em árvore que não dá frutos”, resume Weliton Prado, que nos primeiros dias de mandato em Brasília já obteve assinaturas para a criação da CPI do DPVAT (seguro obrigatório dos veículos) e ocupou a tribuna todos os dias em que foi ao plenário. O presidente do PT de Uberlândia, Frank Resende, que começou a atuar na política levado por Weliton, também defende a família. “Eles têm uma relação direta com a população. O modo de agir deles rompeu com a distância que existe entre o representante e o representado. Além disso, o fato de cada um atuar em uma esfera do poder ajuda muito. Um fortalece o outro. Quando chegava no gabinete do Gilmarzinho uma demanda que só poderia ser resolvida na esfera federal a gente encaminhava para o Elismar. Se era estadual ia para o Welinton. Sem disputa”, conta Frank.

“A gente é incompreendido. Muitos não aceitam nossa presença no cenário político, por preconceito ou por se incomodar com o nosso modo de atuar, sempre fora dos gabinetes e a serviço da população”. Até o ano passado, Elismar era deputado federal. Antes, se elegeu vereador em Uberlândia e deixou o cargo para assumir uma cadeira na Câmara, em 2007. Ano passado, ele e Weliton trocaram de lugar na disputa. Campeão de votos, Weliton concorreu a deputado federal, eleição mais acirrada e que exige votação maior que a estadual, e Elismar tentou uma cadeira na Assembleia. Tanto Elismar como Liza confessam que tiveram como principal cabo eleitoral o irmão. Apesar de trabalhar sem distinção pela eleição dos dois, Weliton tem uma ligação maior com Elismar. Quando crianças, trabalhavam juntos de engraxate. Weliton “captava” os clientes e Elismar engraxava.

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