sexta-feira, 18 de junho de 2010

Conceição - Jubileu espera receber cerca de 80 mil pessoas

DeFato - André Nogueira - 19/06/2010

A festa religiosa de Conceição do Mato Dentro completa 223 anos e acontece entre os dias 13 e 24 de junho

Seguindo os caminhos de diversos romeiros, DeFato Online foi ontem, 17 de junho, a Conceição do Mato Dentro, a 100 quilômetros de Itabira – passando por Itambé do Mato Dentro e Morro do Pilar – para registrar a tradicional festa do Jubileu de Bom Jesus de Matozinhos, que completa seu 223º este ano. Pessoas de diversas cidades de Minas, do Brasil e do mundo vão a Conceição professar a fé, entre os dias 13 e 24 de junho.

Para suprir a demanda da festa, uma equipe composta por 25 padres e diversos missionários foi designada para trabalhar durante o Jubileu. Segundo padre Dilton, há religiosos de várias cidades como Diamantina, Serro, Belo Horizonte, Contagem e outras.

A HISTÓRIA

Em entrevista à reportagem, padre Dilton Maria Pinto afirmou que o Jubileu se iniciou quando um escravo encontrou uma imagem de Jesus Crucificado em um “Capão de Mato”, onde atualmente é o Santuário de Senhor Bom Jesus do Matozinhos. O escravo entregou a imagem ao vigário da época, que a levou para a Matriz de Nossa Senhora da Conceição – isso há mais de 224 anos. Segundo a história, por três vezes a imagem desaparecido do altar principal e apareceu no local onde o escravo havia encontrado-a pela primeira vez.

O primeiro grande milagre aconteceu na vida do português Antônio Correia, que sofria de uma enfermidade denominada “Zamparina”. Ele foi à Matriz de Nossa Senhora da Conceição, e, diante da imagem do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, pediu a cura da doença.

“Em poucos dias, por um milagre, o homem estava curado, surpreendendo, inclusive, seu médico. O médico não acreditou no acontecido e pediu exames, que deram negativos. O mesmo profissional levou os resultados a outros médicos e concluíram que, de fato, algo extraordinário tinha acontecido”, conta padre Dilton.

A história se propagou e a imagem ficou conhecida como milagrosa. A partir de então, pessoas de diversas regiões começaram a vir em busca de bênçãos. A fama da imagem aumentou de tal forma que um bispo do Rio de Janeiro (que coordenava a igreja do local na época) foi até Conceição conhecer de perto Senhor Bom Jesus do Matozinhos. Na época, o religioso sugeriu a construção de uma igreja no “Capão de Mato”.

Em 1787, o papa concedeu a Conceição do Mato Dentro a oportunidade de fazer a festa do Jubileu. “Portanto, 223 anos de muita fé, orações e milagres se passaram desde então. Uma coisa muito linda”, ressaltou o pároco. A festa começou com fiéis da cidade e localidades próximas e foi ganhando repercussão.

ATUALIDADES


Este ano, a expectativa é que, em seus 12 dias de festa, cerca de 80 mil pessoas visitem a cidade, de acordo com o administrador paroquial. Dilton aproveitou o momento para ressaltar o apoio, que ele considera de grande importância, do promotor de justiça Luiz Felipe, que está acompanhando os dias de festividade para colaborar na garantia de segurança dos romeiros.

Outro problema que o padre acredita ter sido erradicado são os furtos e roubos. De acordo com Dilton, o resultado só foi possível graças a uma ação coletiva do Poder Executivo Municipal e da Polícia Militar.

O SANTUÁRIO

A igreja atual foi concluída em maio 1934. A construção estilo Maurisco, com plantas provenientes da Itália, demorou quatro anos para terminar. O altar da primeira igreja, no entanto, foi preservado, bem como a imagem do Bom Jesus, que são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A igreja tem capacidade para comportar cerca de 500 pessoas. Vitrais coloridos, com três metros de altura, são destaques da construção. O piso da parte externa é composto por pedras de diversos tamanhos. Dentro do Santuário há, ainda, lojas de itens religiosos, uma grande Casa Paroquial, Salão de Velas, Salão dos Milagres e Almoxarifado.

SALÃO DE MILAGRES

Um espaço religioso e bastante visitado é o Salão dos Milagres, que atualmente conta com um acervo de cerca de 6 mil itens. À medida que o tempo passa o local é ampliado para receber mais objetos.

O acervo possui diversos artefatos de cera, cadeiras de rodas, macas, muletas, chapéus, bonés, latas de bebidas alcoólicas, garrafas de cachaça, maços de cigarros, chaves de carro e de casa, cartas, sapatos, remédios, óculos, facas, quadros, pinturas, coletes, objetos usados em cirurgias, entre outros. A expectativa é que até o final da festa o acervo seja triplicado.

A CAVALGADA

Outro ponto tradicional da festa é a cavalgada, realizada todos os anos. Diversos cavaleiros saem de Itambé do Mato Dentro, distrito de Brejaúba, Carmésia, Ferros, Itabira, Santa Maria de Itabira, Ferros, São Sebastião do Rio Preto, Passabém, Santo Antônio do Rio Abaixo, Morro do Pilar, Guanhães, Dores de Guanhães, Peçanha, Senhora do Porto, Sabinópolis, Dom Joaquim, Serro, Divinolândia de Minas, Virginópolis, Santa Maria do Suaçuí, São João Evangelista, Cantagalo e outros locais com destino ao evento.

EXECUTIVO MUNICIPAL

A prefeita interina de Conceição do Mato Dentro, Nelma Lúcia de Carvalho Oliveira, afirmou que, apesar de a festa ter um caráter religioso, há uma movimentação significativa para a economia do município. O comércio, os hotéis e pousadas, os restaurantes e até os camelôs (que aumentam muito nessa época do ano) renovam os estoques na expectativa de aumento na venda de produtos e serviços.

“A gente faz o máximo que conseguimos para atender bem ao visitante. Tanto é que neste ano contratamos uma empresa para prestar assistência médica mais eficiente, porque os profissionais do município são insuficientes”, ressaltou a prefeita.

CINQUENTA ANOS

Uma personagem curiosa que a reportagem encontrou no Jubileu de Conceição do Mato Dentro é dona Maria do Perpétuo Socorro, de 65 anos. A cidadã de Morro do Pilar vai à festa de Bom Jesus há 50 anos.

De acordo com dona Maria, desde pequena ela e sua família têm a tradição de ir ao Jubileu. Quando criança, saía da fazenda onde morava com uma tropa de burros carregando alimento, colchões e outros objetos, para o Jubileu; em Conceição do Mato Dentro, seu pai alugava uma casa para que eles ficassem por até oito dias.

O caso de dona Maria é um entre muitos outros que fazem parte da história do Jubileu de Conceição. O próprio padre Dilton conhece algumas pessoas que dizem que vão à festa, ininterruptamente, há 30, 40, 50 anos ou mais.

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